terça-feira, 17 de julho de 2007

road to zaragoza [tomo I]

título óbvio pelo próprio enquadramento manuelino que confere uma geometria caricata a cada acção - assim um compact disc acaba por tornar-se um episódio inesquecível, que ameçou tornar-se num estigma eterno (mas acabou por ler). é precisamente sobre esse signo: a proximidade do estigma que se desenrola toda rodagem do filme que acaba por tornar-se um marco histórico.

a escolha de viajar sem mapa parece óbvia, a possibilidade de caos e consequente palhaçada aumenta exponencialmente, mas infelizmente acabou por ser a única coisa que correu bem na viagem, não houve acidentes de roteiro - quanto a acidentes rodoviários continua a questão sobre que ser-vivo terá sido violentamente atropelado em terras alentejanas [uns defendem que terá sido uma coruja, outros que terá sido um pato, mas entre a possibilidade clara de ter sido um ser alado surge a terceira hipótese ventilada silenciosamente para não perturbar a afamada calma de um dos passageiros, foram os pés do grande avançado Inzaghi que foram atropelados - esta hipótese surgiu mais tarde perante o cheiro moribundo que estes passaram a exalar];
perto do atropelamento esteve também um número considerável de suínos castelhanos que aindam hoje se perguntam como ficaram todos em pé, enfim não se pode acertar sempre, espero que os restantes passageiros não me penitenciem como condutor responsável por ter falhado o alvo.

uma irmandade peregrina fortalece os elos interpessoais através da partilha, todavia penso que este era um ponto no qual o grupo já seria forte e portanto o bombardeamento de pestilência anal a que o grupo foi sujeito toda a noite na viajem de ida era dispensável, terá sido portanto um excesso de atitude, de zelo perante essa necessidade de criar laços.

depois duma travessia longa por cenários à sergio leone e depois de revisitada excessivamente a banda sonora do seu maior opus, o grande momento é sem dúvida a chegada a saragoça - por tudo o que representava, o fim dum longo caminho, a ânsia de ver a velha carcaça do Ozzy a emular saltos rídiculos, de cantar novamente a bard's song ao vivo, de ver duas vezes seguidas o mestre do bending e harmónicas artificiais, de estender a tenda e esticar um pouco... enfim apenas esse entusiasmo concentrado poderia servir de armadura contra o insuportável parvismo-espanholismo gentalha da ralé de povo, nesta altura o hipolitismo já bem expresso visualmente na indumentária escolhida dá largas à sua afamada calma perante os entraves ao erigir das tendas; o resultado dessa acção tranquilamente executada é revelado na noite seguinte por uma queixa comum "epah por favor! isto tem um buraco, tou cheio de frio" [sei que faço pouca justiça a tais situações pela minha pobre capacidade descritiva, mas se puderem imaginar um segurança - da ralé espanhola merdum de gente que para aí anda, raça mal acabada dum raio - a implicar connosco devido à localização das tendas e a forma calma como o pardalismo tende a reagir face a contratempos, facilmente imaginarão um indivíduo em tronco nu vestido com uma saia e a puxar/arrastar com uma mazura tremenda uma frágil tenda por um descampado fora enquanto pragueja e esbraceja com o braço livre].

chega a hora de entrar no recinto de ver os concertos e de finalmente beber, o entusiasmado é mais uma vez refreado ante o mijo de cerveja que se faz nessa terra de gentalha do piorio, mas o calor obriga a pouca contestação. haverá pouco a dizer sobre os concertos [não se pretende aqui uma review das actuações, mas recordo-me que mago de öz deu um belo concerto], a não ser que essa espanholada é tão espanhola que enerva, ali estão a ver excelentes bandas e permanecem impávidos como se estivessem a contemplar o rabo da letízia [uma tábua rasa que não desperta qualquer líbido], mais tarde serão cerca das 06h da manhã e essa gentalha estará numa tenda a berrar para o DJ as músicas que acabaram de ouvir ao vivo e ante as quais não esboçaram qualquer reacção, é uma canalhagem inqualificável de gente..
essa atitude pasmacenta enerva qualquer um, mas claro que a dona maria joão consegue manter o discernimento e a calma necessárias ante a passividade dos empregados do bar perante as investidas sedentas da clientela, o pardalismo inicia um processo de compensação ao serviço fornecido, qual capitão à proa do navio berra ordens aos marujos indica coordenadas - aqui ali, uma caneca para aquele, uma lambreta para o de lá!! - trabalhando incansavelmente.

a noite acabaria pouco depois, mais cedo para uns que optaram por abdicar da actuação do lendário ozzy osbourne para confirmarem se teriam sido de facto os chispes do avançado internacional italiano atropelados em terras alentejanas [o internacional defende-se afirmando que é pura especulação, que os seus pés estão bem e prontos a marcar em tudo o que é jogo e que usará a finta cabo-verdiana, o movimento de ancas funáná para o provar]; quando após o concerto regressaria à tenda um cenário macabro, os ténis espalhados pelo camping tornavam a terra em seu redor estéril, os ocupantes das tendas ressacavam à beira da hipotermia num desolamento de quebrar o coração.

a primeira parte estava completa, não sem antes uma nova aparição manuelina, que após tentar remodelar a arquitectura do condomínio e ante o protesto dos locais esmorece e atinge o ponto mais susceptível do bebim, a sensibilidade feminina que os homens adquirem em inúmeras ocasiões de beberragem, aí a calmismo-pardalismo apoderou-se de mim: POR FAVOR!

(to be continued)